Tinha aqui este texto guardado e por publicar, e pareceu-me que seria uma boa estreia neste projecto, antes que vire mala!
A Liberdade tornou-se num paradoxo.
Todos os dias somos bombardeados com produtos, serviços,
funcionalidades, inovações e outras que tais que nos permitirão fazer mais e
melhor e ainda sobrar tempo. Mas, se sobra tempo, devemos aproveitá-lo para
fazer mais coisas úteis.
Onde fica, então, a prometida liberdade? Ficamos cada vez
mais presos aos gadgets que nos tornam mais livres e eficientes.
Creio que, num mundo cada vez mais imediato, de
oportunidades que convidam a saltar de galho em galho – seja nas carreiras, nos
bens de consumo ou mesmo (infelizmente) nas relações – a liberdade vem de saber
dar tempo.
Dar tempo em vários sentidos:
Dar o nosso tempo a alguém que precisa dele; dá-lo a nós
próprios para aprendermos a desfrutar do tempo livre como livre, e não como
cheio de actividades não “laborais”; dá-lo à espera, ao saber aguardar uma
resposta não imediata, ao deixar crescer o jardim, em vez de o comprar feito de
encomenda por um decorador; dar tempo ao tempo, para que as feridas e nódoas negras
possam sarar e dar lugar a pele nova, em vez de saltarmos para curativos e
elixires que se prometem milagrosos sem nada cumprir.
Quando foi a última vez que pudemos observar, dar conta, do
crescimento de algo?
Quando foi que demos o nosso tempo, mesmo precisando de
responder a mil e uma solicitações – e-mail, redes (anti)sociais, chefes que
ligam quando já saímos do escritório – a alguém para quem esse tempo não era só
mais um quadradinho na agenda?
A liberdade está, hoje em dia, em saber discernir o ritmo da
vida, em distinguir o tempo que deve ser de trabalho do tempo em que o trabalho
tem que esperar se quiser ser bem feito. E por trabalho pode ser entendido
tarefa, ou compromisso.
Vivemos o tempo em que a tecnologia trouxe o imediatismo à
sociedade, a quase todos os níveis da sociedade, mas o saber esperar não deixou
de ter lugar, apesar das nossas ilusões de poder sobre o Tempo. Como diz Warren
Buffet: “Não interessa quão grande é o talento ou o esforço, há coisas que
precisam de tempo. Não se pode ter um bebé num mês por engravidar nove mulheres.”
Quando me propuseram esta colaboração estava a preparar-me
para um fim-de-semana off-line para
tentar acertar o passo com o mundo.
Deixo a sugestão ao leitor de que, se um fim-de-semana off-line for muito tempo, pelo menos
procure usar do on-line (redes
sociais, internet, e-mail, etc.) segundo o princípio Inaciano do Tanto Quanto –
usar o on-line tanto quanto nos faça
o Bem, e abstermo-nos dele tanto quanto nos afaste do Bem.
JMP
Imagem de: https://www.eyeem.com/p/75597089 |
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