Chás para uma tarde de Domingo

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Dirão os puristas que a melhor forma de tomar o chá é simples e sem qualquer adição. Eu concordo. O hábito de ao chá juntar leite ou açúcar vem, muitas vezes, da necessidade de disfarçar defeitos de umas folhas de menor qualidade ou – pior ainda – para mascarar o amargor após a má preparação de um bom chá! Por isso, reforço: sem dúvida que a única maneira de provar um chá é prepará-lo bem e tomá-lo puro.

No entanto, não me choca ver bebidas que misturam outros ingredientes com chá. Por vezes apetece tomar uma bebida diferente, e juntar-lhe um pouco de chá não é crime. Pelo contrário, o chá tem o condão de melhorar quase qualquer bebida, seja pela sua consistência, aromas ou cores.

Este Domingo preparei duas bebidas que me souberam muito bem em ocasiões diferentes. No fim de almoço, tomei um chá preto dos nossos, feito no Japão (Shizuoka 静岡) à moda dos ingleses. Estava óptimo! Pus 4 gramas de English Tea Chás Andorinha num lindo bule de barro que comprei certa vez em Quanzhou 泉州, na China. Deitei água a 90 graus centígrados e deixei infundir durante cerca de 1 minuto. Como o bule é pequeno e o nosso chá muito aromático e tintureiro, não são precisas mais folhas nem tempo. Servi numas xícaras sem asa de uma loiça azul-turquesa típica de Hangzhou 杭州, que também é na China mas um pouco mais a Norte.

Nas várias viagens que tenho tido a oportunidade de fazer ao Extremo Oriente, fui coleccionando chás, livros, bules e outras peças que tenho gosto em usar para reviver essas paisagens e vivências a cada vez que tomo chá. Podia ter servido o chá do Japão em bule e taças de onde pertence; mas servi assim por razões estéticas que também contam, com o líquido côr de mogno do English Tea em contraste com o azul-turquesa da chávena chinesa. Em Roma sê romano, na China chinês e no Japão japonês; mas em Portugal, certamente ninguém me levará a mal se empregar a vontade muito portuguesa de procurar combinações e pontes entre culturas diferentes. 

Por fim, ao lanche, preparei uma bebida especial de Outono que será uma espécie de Houjicha Latte. O Houjicha é um chá verde torrado muito agradável e que liga perfeitamente com os produtos do Outono, como as broas, os frutos secos, a abóbora, a marmelada... e este fi-lo com mel. Passo a explicar:
- peguei nalgumas folhas de Houjicha 2016 Chás Andorinha e pu-las num almofariz;
- moí as folhas bem moídas até as reduzir a pó de Houjicha;
- peneirei esse pó num passador, para dentro dum copo alto, para que passassem apenas as partículas mais finas;
- deitei no copo leite meio-gordo dos Açores à temperatura ambiente, mexi bem, e depois juntei-lhe uma colher de mel alentejano;
- mexi até ficar com espuma e pus umas pedras de gelo para refrescar.

O resultado é delicioso: o cremoso do leite, o doce do mel e o torrado do nosso Houjicha combinam na perfeição. E quando as temperaturas arrefecerem um pouco mais, esta receita também sabe muito bem quentinha. Não é a melhor forma de se apreciar o Houjicha, que vale por si só... mas é uma bebida de leite que fica muito enriquecida com o toque que o Houjicha lhe dá!

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